Atraso na vacinação contra a Covid-19 no Rio custou a vida de 31 mil pessoas no estado do Rio de Janeiro, segundo estudo

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 8 jun 2022

Atraso na vacinação contra a Covid-19 no Rio custou a vida de 31 mil pessoas no estado do Rio de Janeiro, segundo estudo


Agência O Globo – Foram observados os dados de casos confirmados, mortes e vacinação no estado do Rio no período de 10 de março de 2020 a 27 de outubro de 2021. Eles estimaram que, se a vacinação tivesse começado em 20 de dezembro de 2020, em vez de 20 de janeiro de 2021, combinada a esforços para aplicação de doses, 31.657 mortes poderiam ter sido evitadas. A margem de erro é de 3%, para cima ou para baixo.

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O custo pelo atraso de uma dívida é pago em dinheiro. Mas, quando se trata da Covid-19, o preço é cobrado em vidas. Tempo perdido mata. Um novo estudo revela que, só no Estado do Rio de Janeiro, a demora de um mês do governo federal em começar a distribuir vacinas custou a vida de cerca de 31 mil pessoas, pouco menos que a metade dos quase 74 mil mortos registrados desde o início da pandemia.

— Mais de 31 mil dos mortos pela Covid-19 de 2021 poderiam estar vivos se a vacina tivesse chegado apenas um mês antes. Parte da nossa sociedade banalizou a violência da pandemia, mas esse é um número brutal — afirma Gustavo Libotte, pesquisador bolsista do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e principal autor do estudo. — Não estamos falando de possíveis óbitos, mas de pessoas reais que morreram por má gestão de saúde. Elas poderiam ter sido salvas. A contaminação política e ideológica de saúde mata. A análise matemática dos óbitos, do ritmo de vacinação e da progressão da pandemia deixou isso evidente.

Foram observados os dados de casos confirmados, mortes e vacinação no estado do Rio no período de 10 de março de 2020 a 27 de outubro de 2021. Eles estimaram que, se a vacinação tivesse começado em 20 de dezembro de 2020, em vez de 20 de janeiro de 2021, combinada a esforços para aplicação de doses, 31.657 mortes poderiam ter sido evitadas. A margem de erro é de 3%, para cima ou para baixo.

— O Ministério da Saúde poderia ter comprado e distribuído as doses antes, e as investigações da CPI da Covid deixaram isso claro. A Pfizer, por exemplo, ofereceu ao Brasil, e o governo federal não quis. Isso levou à demora no começo da vacinação, e esse atraso foi pago pela população com a própria vida — acrescenta Libotte.

Roberto Medronho, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos autores do estudo, explica que não apenas o Rio, mas todo o país continua a sofrer com o ritmo lento da vacinação e a pagar em vida e doença o tempo desperdiçado:

— É uma combinação de demora, falta de campanhas e celeridade em vacinar com ignorância, ideologia e desinformação contra as vacinas. Houve o fim social da pandemia, mas o coronavírus não foi informado. A maioria dos casos de Covid-19 agora é leve, mas muita gente continua a ser internada. No início do ano, previmos o aumento de casos que vemos em maio. E, como nada mudou, a Covid voltou a subir.

O Rio é representativo do impacto da pandemia: é o estado com a maior taxa bruta de óbitos por 100 mil habitantes (424,95), o segundo em mortes (73.797, até 29/05) e o quinto em número de casos (2.184.238, até 29/05). Segundo o estudo, até 21 de outubro de 2021, 290 dias após o início da vacinação, o Rio de Janeiro foi um dos estados que mais receberam doses: 163.561 doses por 100 mil habitantes, ao passo que a média do Brasil é de 155.727 por 100 mil. Porém, como destacam os pesquisadores, as doses demoraram a chegar e, quando isso ocorreu, foi a ritmo aquém do necessário. O estado vacinou no ritmo médio de 69.200 pessoas por dia.

Recém-publicado na revista internacional de alto impacto Journal of the Royal Society Interface, o artigo foi realizado por cientistas do LNCC e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O resultado da modelagem matemática passou por revisão por pares, o padrão ouro de avaliação.

O impacto da perda de tempo fica evidente quando se comparam os dados brasileiros com os de países que começaram a vacinar antes. O Canadá é tomado como exemplo. O país lançou sua campanha de vacinação em 14 de dezembro de 2020, cerca de um mês antes do Brasil.

Se tomado o mesmo período de 290 dias, administrou 153.480 doses por 100 mil habitantes, um ritmo similar ao do Brasil. Mas, nesse mesmo período, o Canadá tinha uma taxa de 0,89 morte por milhão de habitante contra 1,64 do Brasil. “Esses dados estatísticos ressaltam a importância de se vacinar o mais depressa possível”, diz o artigo.
Estudos anteriores de outros grupos de pesquisa haviam estimado em 2021 que passaria de 100 mil o número de mortos no Brasil devido ao atraso na compra e na distribuição de vacinas. O novo estudo mostra que esse número deve ser ainda maior, já que estados como os da Região Norte têm taxas piores de imunização.

— Para evitar aumentos de casos como esse que atravessamos, as pessoas também precisam colaborar e ir se vacinar. É preciso que entendam que, sem isso, a pandemia não acaba, nem por decreto — adverte Medronho.
Nota técnica do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 da UFRJ, divulgada na segunda-feira, destaca a importância da vacinação. Dados da secretaria de estado de Saúde do Rio mostram que apenas 28% do público-alvo de 5 a 11 anos completou o esquema vacinal básico (2 doses). Só 27% daqueles entre 18 e 29 anos tomaram a dose de reforço; na faixa etária de 40 a 49 anos, 44%, e na faixa de 50 a 59 anos, 54%. “Isto evidencia a queda na adesão à vacinação e o risco de aumento da transmissão do Sars-CoV-2 e de todos os seus possíveis impactos negativos”, diz a nota.

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