Publicado em 2 abr 2025
Temporal Risk of Nonfatal Cardiovascular Events After Chronic Obstructive Pulmonary Disease Exacerbation: A Population-based Study
Título do Estudo
Temporal Risk of Nonfatal Cardiovascular Events After Chronic Obstructive Pulmonary Disease Exacerbation: A Population-based Study
Fonte
Am J Respir Crit Care Med 2024 Apr 15;209(8):960-972. doi: 10.1164/rccm.202307-1122OC. PMID: 38127850 PMCID: PMC11531205
Introdução
A busca por intersecções entre a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e as doenças cardiovasculares (DCV) encontra-se atualmente em realce. Ambas sabidamente compartilham importantes coeficiente de risco como a inflamação sistêmica, hiperinsuflação pulmonar e a aterosclerose, reforçando a necessidade de abordagens integradas para seu manejo. Este estudo foi pioneiro no tema, tendo como característica o acompanhamento a longo prazo de pacientes com DPOC frequentemente exacerbadores. O estudo destacou a relação temporal entre as exacerbações e o surgimento entrelaçado de eventos cardiovasculares posteriores.
Métodos
Estudo observacional de coorte retrospectivo que utilizou dados do Clinical Practice Research Datalink (CPRD), um banco de dados representativo que abrange aproximadamente 20% dos atendimentos em atenção primária na Inglaterra. O estudo incluiu indivíduos com mais de 40 anos com histórico de tabagismo (atual ou prévio) e diagnóstico de DPOC. Foram excluídos pacientes com eventos cardiovasculares ocorridos no ano anterior ou que no grupo controle, tenha havido o registro de exacerbações neste mesmo período. O seguimento ocorreu de 2014 a 2019, tendo como marco de início o primeiro episódio de exacerbação no grupo exposto. As exacerbações foram classificadas como moderadas, quando tratadas como uso de corticosteroides ou antibióticos ou acentuadas(graves), quando associadas a hospitalizações mediante a descompensação do quadro pulmonar.
Resultado
severa, que levou a internação do paciente. Houve apontamento de eventos cardiovasculares suplementares: síndrome coronariana aguda (SCA) ocorreram em 4.108 pacientes (10,1%) e o AVC isquêmico em 2.399(5,88%). Em averiguação sobre o AVC isquêmico, não foi possível estabelecer uma relação temporal clara com seu risco. Embora a hipertensão pulmonar tenha sido o evento menos frequente (1.492 registros – 3,66%), ela se destacou por apresentar o maior aumento no risco relativo a longo prazo. Em análise vasta, o risco geral de quaisquer eventos cardiovasculares foi consideravelmente mais elevado nos 14 dias após as exacerbações severas de DPOC, enquanto nas exacerbações moderadas o risco tornou-se mais elevado entre a janela de 14 e 30 dias. Foi observado que o risco de DCV permaneceu intensificado mesmo após um ano das exacerbações pulmonares, independentemente de sua magnitude. Em termos absoluto, a cada 100 exacerbações graves de DPOC (hospitalizações), foram registrados 28 eventos cardiovasculares, enquanto paralelamente a cada 100 exacerbações moderadas, houve 22 eventos contabilizados.
Discussão
Mediante ao cenário de inflamação sistêmica crônica, hipoxemia e estresse oxidativo contínuo, além de alterações hemodinâmicas deletérios a hemóstase as exacerbações da DPOC representam períodos críticos de risco cardiovascular ao paciente, especialmente nas primeiras duas semanas, quando há maior propensão ao surgimento de complicações com alta morbimortalidade como fenômenos arritmogênicos e o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Em geral exacerbações severas, apresentam um aumento do risco cardiovascular no curto prazo (até 14 dias), enquanto o surgimento de DCV relacionado as exacerbações moderadas tendem a serem deflagradas em períodos ligeiramente posteriores a 2 semanas. Embora o risco cardiovascular diminua progressivamente ao longo do tempo, ele permanece elevado até um ano após a exacerbação, evidenciando os efeitos deletérios prolongados `deste cenário clínico. Portanto, salienta-se a necessidade de intervenções médicas imediatas, visando a estabilização do quadro respiratório e a prevenção de complicações cardiovasculares. A integração na ótica sobre cuidados cardiopulmonares é essencial, oferecendo uma oportunidade crucial para tratamentos personalizados e estratégias multidisciplinares com o potencial de minimizar futuras complicações, melhorar os desfechos clínicos e elevar a qualidade de vida dos pacientes.
Limitações
Os fatores de confusão não foram atualizados durante o período de prosseguimento, impactando na análise estratificada a longo prazo dos achados. A não inclusão de aspectos relevantes ao risco cardiovascular, como a apneia obstrutiva do sono e o uso prolongado de oxigênio, presumivelmente levou a uma superestimação dos dados exprimidos. O acesso apenas aos dados estruturados contribuiu para potenciais interpretações errôneas de exames diagnósticos como o ecocardiograma, que dificultou a análise de alguns eventos como insuficiência cardíaca e hipertensão pulmonar; além de proporcionar erros de categorização nas exacerbações da DPOC e das DCV. Embora os achados tenham sido relevantes, o uso de uma coorte observacional aberta impera a necessidade de cautela na interpretação dos resultados expostos.
Conclusão
As exacerbações dos pacientes com DPOC estão intrinsicamente associadas a um aumento na incidência de doenças cardiovasculares. O risco é mais pronunciado logo após deflagrada a exacerbação, entretanto, o risco continua elevado mesmo após um ano. Nesta janela, cria-se oportunidades importantes para intervenções e otimizações clínicas do tratamento, visando reduzir os riscos cardiopulmonares a longo prazo. Ressalta-se que a prevenção das exacerbações deve ser um dos pilares centrais da abordagem, essencial para a redução do risco de doenças cardiovasculares.
Referência
GRAUL, E. L. et al. Temporal Risk of Nonfatal Cardiovascular Events After Chronic Obstructive Pulmonary Disease Exacerbation: A Population-based Study. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, v. 209, n. 8, p. 960–972, 21 dez. 2023.
Dr. Henrique Melo Xavier – Pneumologista pelo HUAP/UFF